APRESENTAÇÃO
infiltrações antrópicas e pós-antrópicas
Isto é uma exposição "permanentemente temporária" onde plantas, fungos, musgos e outros seres atuam na autoria de obras que compõe o Mudda. Conjuntamente, uma coleção de mais de uma centena de pixos e grafites. Tudo isso num local em que circulam residentes na arte de sobreviver.
Um ato deliberado de petulância: forjar, impor a contragosto, à fórceps um museu.
Nasce aí um acervo de autorias multiespécies que se associam de forma especial compondo a espacialidade expositiva. Um museu infiltrado e feito de infiltrações, em que água é criadora, dançando em formas nunca retas. A inauguração de um museu que,
já aberto, nunca fecha.
Certamente a maior das obras do acervo do Mudda é a ausência de uma obra em específico. O buraco do Confaloni sintetiza a extirpação da história: oito toneladas de memória arrancada, depois do painel conflagrado. O buraco do que já foi painel, vira um painel de céu, céu do Cerrado,
céu do painel serrado.
A escolha curatorial por assinalar as obras com autoria antrópica e pós-antrópica visa abarcar as variadas forças criativas que atuam. O ponto de partida é o prédio arquitetado pelo serumaninho Gustav Ritter, mas, desde seu planejado abandono, veio o desenho do pincel do tempo e de múltiplas agências. Tela para o reino fungi e vegetal, e também tela para a arte humana dita marginal.
Em cada átimo de segundo dos últimos quatro anos, não parou de se produzir. Muda sem cessar. Múltiplos mundos brotam. Em arbustos do segundo andar se anunciam devir-florestas. Museu que sintetiza a obra por excelência do ocidente branco: paisagem de destroços, fábrica incessante de desmoronamentos. Gostoso avisar que isto não é uma destas defesas nostálgicas da preservação da forma arquitetônica mais careta e carente vigente. Paradoxalmente, ainda assim se aponta o ataque à história aqui exposto.
É dentro deste descaso em estado de história que a gente vai brincando, criando, inventariando. É só por conta do desdém, do desconhecimento sobre Ritter e Confaloni, que se permite desfrutar de alguma apropriação criativa/destrutiva nessa obra-prima da arquitetura goiana.
Museu de caimentos. Tombem o prédio caindo lentamente: é um centro de convívio vivo. Caem gesso, vidro, e a estrutura mira quem passa no eixão na Anhanguera (reintitulada por nós Avenida Maria Grampinho).
Sem janelas, é todo tomado por vãos em suas duas longas, quase infinitas laterais. A luz abunda, o cobogó emaranha toda a frente do prédio e faz seus desenhos no chão. Aliás, a única parte fechada nas duas laterais do prédio todo era o mural do Confaloni.
Do desmoronar brota o acervo. Inventamos um jogo para encontrar títulos para a imensidão das obras. Deste modo, reafirmamos o gesto artístico de tocar na materialidade e transmutá-la em outra coisa ainda.
O Confa foi. Surgem novos estados da matéria.
Assim, nóis tá tombando o que tá caindo, e o que não foi tombado não para de cair.
Damos boas vindas a todas as formas de vida e de estados da matéria.
EQUIPE
Museu do Depois do Amanhã
Governo do Desmoronamento
Prefeitura do Colapso
Secretaria da Queda do Céu
direção geral e curadoria
beta(m)xreis
Glauco Gonçalves
Henrique de La Fonte
Luiz da Luz
Robert Valentim
diálogos
Adriano de Moraes - artista
Ana Paula Alcanfôr - pesquisadora e artista
Benedito Ferreira - artista
Bulacha - artista
Cássia Oliveira (Jurupiá) - artista/docente UFG
Heitor Vilela - jornalista/ilustrador
Isadora Malveira - historiadora
Karol Valadão - psicóloga/arteterapeuta
Lucas Xavier - pesquisador
Manuel F. L. Filho - diretor do Museu Antropológico UFG
Paulo Paiva - artista/arquiteto
Rafael Vaz - artista
Renato Vital - fotógrafo
Roberto Lima - antropólogo/docente UFS
Rogério (Tio Arte) - artista
Tarsilla Couto de Brito - escritora/docente UFG
Willan tRAPo - poeta/artista
Paulo H. D. Feitosa - curador/docente UFG
museologia
Ana Karina C. O. Rocha - museóloga/docente UFS
Mariana França - estudante de museologia UFS
Paulo Lima - museólogo/diretor do Museu do Ouro
triz sá - fotógrafa/estudante de Cinema IFG
projeto arquitetônico
Gustav Ritter
Oton Nascimento
artista despejado
Frei Confaloni
artistas pós-antrópicos
Acaso
Caos
Forças da Natureza
Reino Fungi
Reino Vegetal
artistas antrópicos
Em curso
conservação
Proprietários do prédio
O MUDDA é um projeto de extensão vinculado à UFG e conta com o Apoio da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Federal de Goiás