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MUDDA
MUSEU DO DEPOIS DO AMANHÃ

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Pouco antes de ser guilhotinado, em 1794, Antoine Laurent Lavoisier cunhou umas das mais celebres sínteses da ciência: “ na natureza nada se perde, tudo se mudda.” Desde então o fundamento elementar na museologia mundial é não deixar nada se transformar, guardar sem cessar, guardar sem alterar. Luta vã contra o inevitável. Inocência com prepotência desta espécie que almeja ter as coisas para sempre, enquanto corrói o mundo em estalos e instantes. Desde o Conselho Internacional de Museus (ICOM) até o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) a luta pela permanência do acervo, da matéria, se dá fundamentalmente contra dois agentes: água e fogo. Pela primeira vez na história da água, e da humanidade, um museu atraca pelo avesso, e convida a água para protagonizar não só uma exposição mas a própria produção do acervo. A muddernidade líquida constrói enquanto corrói. Constrói humilddemente com sua umiddadde vívida. Verdejantes performatividades que bailam para que os não visitantes vejam. Trata-se do descentramento da espécie humana perante a substância que a constituí na sua quase totalidade. O mudda virá museu água. Eis a constatação mais concreta. Mais uma vez o Museu do Depois do Amanhã, com a exposição do concreto aguado, faz escorrer as velhas e inertes noções de acervo. Aceita, reivindica e até explica a delícia subversiva do encontro entre o sólido antropomórfico do concreto e o líquido reinante e imanente à toda forma de vida. Um exemplo brutal da precariedade passageira da ação humana: tudo que é sólido desmancha na água. Mas não sem antes produzir manchas, mar de fungos e de plantas. A quem diga que o Museu do Depois do Amanhã é o responsável por produzir mostras do fim do mundo, sendo o único e último a guardar as paisagens por excelência do ocidente: o colapso das formas e das estruturas, o escombro e seus estrondos. Mas ao lançar a molhada exposição do concreto aguado a direção muddeológica torna evidente seu avesso: o Mudda expõe o que vem de vida enquanto o mundo branco desmorona. A mesma água que atua para as paredes caírem atua para que a vida nelas possa nascer. Como tecer uma curadoria do líquido? A interação, não sem embates, entre o sólido concreto e a linda e liquida água produzem o maior acervo de toda a história da museologia mundial, somados British Museum e Louvre nem roubando todo o terceiro mundo mais uma vez terá tantas obras e artistas juntos. Por ser um museu produzido em associação ao tempo e suas intensas interações o Mudda, estrategicamente inserido no clima tropical clássico, se faz dois. É um entre Abril e Outubro, tomado de colorações amareladas e tons de marrons que só não ditam tudo por que há o dedo e o spray que tudo colorem. E é outro entre Novembro e Março, arregaçado de verdes, encharcado de água. É tamanha a força onipresente que os espelhos d’água produzem vertiginosas confusões entre teto e chão. Então não há um Mudda, mas dois no mesmo lugar. O espaço muddeológico evidencia que a confluência dos tempos pode romper o absoluto da forma, nunca inerte. Newton chora ao perceber que dois Muddas podem ocupar o mesmo lugar. A cada átimo sua dança atenta contra tudo que é sólido. Refém apenas das partículas que a compõe, a água é um coletivo inquieto, imparável. Saudamos aqui a (oni)presença dela senhora da vida e de quase todos os desastres! Não visite, mas se for vá de galocha. Se há modernismo brutalista, há muddernidade líquida! A água é o naufrágio de todo museu. Mas não do nosso.

HORÁRIO DE NÃO FUNCIONAMENTO
 
  • Não vá;
  • Não nos responsabilizamos;
  • Não se distraia;
  • Território privado.

RECOMENDAÇÕES DE NÃO VISITAÇÃO

 
 
 

GALOCHAS

Prefira calçados fechados, mantenha a antitetânica em dia.

PASSARELA

Há uma passarela sem guarda corpo, após subir uma escada sem corrimão. Dê prioridade a sua segurança.

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Tour virtual

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