Anatomia da ruína
por: Gabriel Augusto
A exposição inaugura o conceito Muddernissage em que obra e autor convergem na ruptura da compreensão do sentido de um museu de escombros.
“As modalidades contemporâneas de demolição se cristalizam, enquanto as clássicas dicotomias forma/matéria, matéria/material, material/imaterial, natural/artificial e fim e meio são profundamente questionadas”
Achille Mbembe, Brutalismo, p.18
“O rosto é uma política”
Deleuze & Guatarri, Mil Platos v.2, p 55
“Ouviram? É o som do seu mundo desmoronando.
E o do nosso ressurgindo.”
Exército Zapatista de Libertação Nacional, 21 de Dezembro de 2012.
O convite para que Gabriel Augusto assinasse a primeira individual dentro da coletiva deste desmuseu vem de uma concepção muddeológica básica: cola quem já tá tava! É chamade quem já morava. Gabriel pariu suas criaturas no munddo-mudda desde daquele desdém-deslançamento. Há no fundo do corredor do segunda andar uma sombria rosticidade gabrieliana que se funde e fode junto de azulejos chamuscados de fuligem. Rosticidades de Gabriel moram em outras salas do prédio, inclusive na sala ao lado da que a exposição acontece.
É, então, uma exposição de um dia só para certas obras e permanentemente temporária para outras, que são parte do acervo antrópico do Museu do Depois do Amanhã.
Exposição em que são expostos pesadelos corporificados de uma sociedade apodrecida, que perdeu o elo com o sonho, e agora só pode apavorar.
Não são as figuras de Gabriel que são medonhas: a cara do mundo que é atroz.
E mais: é a construção da estética do assombro que é pobre, e é sobretudo maldosa, pois nos impede de ver os verdadeiros monstros: brancos, bilionários, no norte global comendo o planeta enquanto viramos fragmentos em sangrentas sarjetas da história.
As formas costumeiramente vistas como assustadoras carregam gestos profundamente sutis. Mora no corpo-cara horrífero uma coleção de finas elaborações, o peso de metal fundido e retorcido por Gabriel beira flutuar feito o padre que voava com seus balões.
Depois do assombro: há sutileza!
Funde-se de maneira orgânica, feito o ferro derretido por ele, delicadeza e brutalismo. O brutalismo das formas de Gabriel é a corporificação do brutalismo elaborado em linhas por Achille Mbembe. O brutalismo deste versa sobre a economia como máquina de moer, perfurar, queimar- sugar planeta, já o daquele cria alguma anatomia possível para este corpo do mundo.
A mais coletiva das exposições individuais já feitas no munddo tem Bulacha e Ferdz com sua máquina de destituir paredes brancas em massa e que são os interlocutores por excelência, acolhendo entre letras as obras de Gabriel. Laís Rocha tem seu painel que se camufla junto aos fungos e que por debaixo da primeira camada carrega um alerta-convite. Certamente uma das obras mais singulares do acervo antrópico do Mudda. Paulo Paiva e William Trapo também estarão por lá, presenças imprescindíveis que estão não só nas paredes, mas nas entranhas da articulação deste projeto desde seu início. Ricarjones com seu lambe barbie dá um tchan na parede musgada. Dayana Silva também poderá ser vista por lá, junto com Montefusco, Morai e Marcelo Viana.
Vale lembrar que toda parede de galeria foi pintada de branco por algum artista antes do quadro ser pendurado. Só há exposição individual onde há apagamento!
Venham viver as monstruosidades de Gabriel Augusto nesta tarde tórrida, acolhidos pelas sombras do que sobra.
Museu do Depois do Amanhã
Governo do Desmoronamento
Prefeitura do Colapso
Secretaria da Queda do Céu
Direção geral
beta(m)xreis
Glauco Gonçalves
Henrique de La Fonte
Luiz da Luz
Robert Valentim
Montagem e curadoria
Gabriel Augusto
Glauco Gonçalves
Henrique de la Fonte
Klayton Silva
Luiz Luz
Texto de Apresentação
Glauco Gonçalves
Tradução e Revisão
beta.m.xreis
Fotos da Exposição
Henrique de la Fonte
Foto Perfil
Johny Aguiar
Redes Sociais e Site
Luiz Luz
Logística
Robert Valentim
Exposição Coletiva Permanente
Bulacha
Ferdz
Laís Rocha
Moirai
Montefusco
Marcelo Viana
Ricarjones
Dayana Silva
Paulo Paiva
Wiliam Trapo