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Mari de Queiroz

Seu trabalho sobre fungo e musgos conversa profundamente com o MUDDA na medida em que, atualmente, precisemos falar muito sobre violência. 

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infiltração : áreas permeáveis evitam enchentes

Infiltração é uma série em andamento sobre o apagamento de um estupro, revelado após um hiato de trinta e cinco anos. A procura por fragmentos de memória me levou a estabelecer como procedimento de trabalho refazer o trajeto até o local da violação repetidas vezes, no decorrer de um ano pandêmico. Tive como objetivo pesquisar algumas materialidades possíveis para essa violência encoberta. Na topografia subjetiva de meu corpo-mapa, a marca permanece.

Áreas permeáveis evitam enchentes é uma das traduções possíveis para este percurso, um dos resíduos materiais dessa peregrinação: trata-se de um conjunto de 3.928 imagens de musgo, bolor e mofo fotografados com um celular entre 30 de setembro de 2020 e 30 de setembro de 2021. As fotografias foram feitas nesse trajeto cotidiano, insistente e restrito, marcando cada uma de minhas passagens pela casa onde fui violada. Após perceber, registrar e acolher a reação física do corpo ao fato de me recolocar no local do crime, seguia na coleta do verde até que sua porosidade absorvesse o transbordamento caudaloso que me acometia a cada visita. Cada passagem pela casa foi registrada em foto e texto, que em sua profusão se desdobraram em diversas materialidades.

Os musgos são sobreviventes por contágio - absorver a umidade é seu modo de vida. Ao transformar o verde do carpete úmido dos fragmentos de memória em musgos, bolores, mofos e infiltrações, busco tocar outros corpos vítimas de violência. O pessoal torna-se então político (HANISH). Os lambes estão disponíveis, via site, a fim de que o trabalho se espalhe pela ação de outros corpos. Esparramar essa infiltração é uma forma de materializar tantas violências silenciadas.

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