O lambe-lambe surgiu como suporte à subversão na França dos anos 60, espalhando-se pelo mundo com presença marcantes pelos muros cinzas e degradados das cidades. Entre musgo, fungo e manchas de goteira as imagens feitas de variadas técnicas estampam os sentimentos profusos de seus criadores.
Nesse contexto breve, o acervo do plano MUDDA constitui-se dessas experiências que te fazem buscar entre escombros as impressões de Tio (Rogério), artista goiano, que com destreza do hábito, utiliza-se de cola diluída para pintar sobre cimento e tinta velha parte de sua mensagem transmitida aos corações humanos que habitam um espaço negligenciado.
Por mais besta que possa ser, o papel é o mesmo da escola, a tinta é a mesma das papelarias, que juntas formam obras únicas, transitivas e versadas. De recortes em chapas de raio-x ou de transparências para retroprojetores fazem-se os estêncis, moldes recortados em faca artesanal feitas de bisturis, estiles ou laminas de apontadores.
Pioneiro no despojo das construtoras e especuladores, Rogério artista residente desde antes do MUDDA, fala de onde onde vem a inspiração para pintar seus cartazes.
"O lambe é arte de rua pra rua, então é arte minha pra todos."
Os personagens pintados por Tio refletem pessoas que ele admira e propõe que seu expectador tire suas próprias conclusões.
Nos parece que caminhar pela cidade só é possível a quem não pode pedir uber. As JBLs sem fio sinfonizam nossas presenças em casa, Alexas fluentes falam sobre arte e música, e para continuar assistindo cinema Netflixes nos permitem pular para o próximo episódio. Em oposto ao interrupto digital o lambe é tinta sobre papel e combinando forma, conceito, técnica e inspiração com as cores azul, verde, vermelha e preta não apaga, pinta.
Rogério é um dos ocupantes passageiros que deixam que suas obras sigam junto ao relento, há outros. E assim enquanto houver prédio haverá espaço para mais um e sempre mais um... Espalhados pelas salas recém batizadas artistas como Peralta e Kayke Fernandez também passaram por lá bem antes de ontem.
" Eu gosto de desenhar pessoas e sempre trago uma característica mais antiga, tipo a do orelhão, simples assim"
Há distinções nos diversos suportes artísticos de rua, ora é lambe, ora grafite, ora picho ou street-art, mas o lambe como arte pré-produzida tem a característica de ser menos marginalizado e de instalação rápida. É um processo que leva o tempo do artista em seu ateliê.
Perfeito!