A imagem acima é um dos últimos registros do painel encomendado para compor o prédio das Centrais Energéticas de Goiás (Celg).
Com a entrada do modernismo arquitetônico em Goiás, surgiram nas edificações obras de artistas como Dj Oliveira, Octo Marques, Luiz Curado, Henning Gustav Ritter, Antônio Peclat e Frei Nazareno Confaloni. Convidado a realizar uma de suas pinturas, Confaloni criou o painel intitulado "Energia Elétrica: a origem, a invenção e o usufruto", no hall principal do prédio da antiga Celg.
Até 2001, o prédio serviu ao seu propósito, abrigando servidores da estatal voltada à administração da distribuição de energia elétrica do estado. Com a privatização do serviço, o imóvel foi entregue à Enel, empresa italiana que passou a gerir a eletricidade em Goiás.
Mesmo após a venda do espólio da Celg, o estado permaneceu neste espaço com a Secretaria de Educação. Com as mudanças de gestões políticas, este órgão foi removido para uma área pertencente ao estado. Esse vazio permitiu uma série de intervenções anárquicas, como a quebra de janelas, roubo de parte da estrutura e pichações, que começaram em 2019.
Em matéria publicada no jornal O Popular, em 18 de fevereiro de 2020, o produtor cultural PX Silveira denunciou que o painel foi completamente coberto por tinta preta. Segundo o delegado, não houve "indícios da ação de pichadores" [Link para a matéria]. Ou seja, não é possível creditar o vandalismo no painel aos artistas intervencionistas de Goiânia, que possuem uma ética entre eles.
Recortado, removido e transportado, Confaloni Conflagrado foi embora. Nós, do MUDDA, testemunhamos esse processo. Foram necessários cinco dias, quatro operários, dois caminhões (um deles com um braço mecânico) e muita persistência. Com cuidado, o painel foi tombado na carroceria aberta de um Volvo 1989.
Aqui, já não há mais o painel. O vazio escancara a presença da natureza e a ausência de um artista despejado. Confaloni se foi, deixando para trás a casa que o abrigou até 2023. Hoje, a antiga Celg/Seduce abriga entre escombros o MUDDA - Museu do Depois do Amanhã, um chamado a olhar a composição e a beleza de um patrimônio abandonado e não tombado.
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